segunda-feira, 1 de abril de 2013

Terezinha

















O primeiro me chegou
Feito doce pra criança
Me encantou com os seus olhos
Me laçou com sua trança

Ensinou que não se aprende
E mostrou a nostalgia
Ora um poço de esperança
Ora um balde de água fria

Quando vou me refazendo
Sempre surge no verão
Longe, vou me protegendo
Mas eu nunca disse não.

 ...

O segundo me chegou
Como um anjo vem do nada
Se instalou na minha vida
Feito casa de morada

Me deu ombro e acalento
Era sonho e fantasia
Mas a Terra deu a volta
E quando vi já era dia.

Pelo sonho fez-se amado
Pelos erros fez-se vão
Pela dor, já acordado
Fez-se minha ingratidão.

...

O terceiro me chegou
Tal um lobo envolto em lã
Seu perfume era de rosa
Mas su'alma era vilã

Um feitiço duradouro
Mais perdi do que ganhei
Entre tantos entretantos
Devo-lhe o que hoje sei

Nessa tríade versada
Roubaram meu bom quinhão
Hoje não procuro nada
E amo a minha solidão!


(Mentira!)


Eric Vitoriano
(Com a breve colaboração de Chico Buarque, pelo eu-lírico feminino, e pelas canções "Teresinha" - a original, de onde roubei a melodia  - e "Samba do Grande Amor"- de onde roubei o "mentira").

Veja: Teresinha - Chico Buarque  - Youtube

Resto do Post

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Híno à Isis


Era uma vez uma garotinha chamada Isis...
Espera aí, “era uma vez” não é uma forma de se começar contos de fadas? E os contos de fadas não deveriam terminar com um: “felizes para sempre”?
Sinceramente, não sei...

Certo dia apareceu em uma porta, suja de sangue e ainda com cordão umbilical, uma criança em uma caixa de papelão.
Abandonada pela mãe biológica, quis o destino que não fosse também a dona daquela porta a sua mãe, nem tampouco a pessoa que se compadeceu e a tirou daquela situação.
Sua mãe seria apenas o quarto colo em que a pequena recostaria-se: uma senhora, idosa, chamada Maria.
Pareciam, então, resolvidos seus problemas, pois depois de um inicio de vida conturbado, não achara só uma mãe, achara uma “Maria”.
Mas sua curta e intensa jornada apenas começara...

Havia sido José – esposo de Maria, também idoso e doente terminal – que havia tido a idéia de criar a menina.
Sabia idéia, pois ela iluminaria seus últimos dias e seria a companhia de sua mulher depois que ele partisse.
No começo foi retrucado por Maria:
— Mas José, somos velhos. — dizia.
— Está decidido.

Impossível seria não lembrar dele sentado no banco da praça - ora sorrindo, ora concentrado em uma pose que muito lembrava a estátua de Drummond – enquanto ela corria de um lado para o outro.
E como corria!
Aliás, correr, assim como andar de bicicleta ou qualquer tipo de travessura, era sua especialidade, quase incansável nesse sentido.

Depois da morte de seu pai José – como quisesse preencher um vazio que existia mesmo antes de enterder-se como gente – começou a chamar de “mãe”, alem de Maria, duas de suas irmãs: Marizete e Elizabete. Passava então a ter o luxo de ter três mães.
No decorrer de sua vida eram poucas as suas amigas, sofreu bullying, e foi criada, até certo ponto, de uma maneira inadequada para seu tempo. Mesmo assim, era impressionante como, estaria sempre estampado em seu rosto um sorriso quase sobrenatural de tão intenso.
Intenso tal qual fora ela.
Intenso tal qual fora a vida dela.

Hoje, ainda estarrecido, não consigo fazer cair a fixa de que Isis Aparecida, 11 anos, está morta.
Vitima de um câncer contra qual lutou – com o sorriso intenso de sempre – por mais de dois anos. Período em que, entre outras coisas, teve sua perna direita amputada – imaginem só! Aquele era instrumento que usava pra fazer o que mais gostava: correr!
Pouco depois o tumor chegou ao pulmão.
Penso que todas as blasfêmias do mundo são totalmente justificáveis por casos como esse.
Não bastava a vida dura que tivera até então?
Não bastava ela ter sido abandonada pela primeira mãe, negada à segunda e tirada da terceira?
Meu Deus ela era uma criança!

Inevitavelmente, justas heresias invadiam meus pensamentos: “Oh meu Deus, com tanta gente praticando inimagináveis crueldades gozando de saúde plena, é esse o destino que Tu reservas pra uma criança?” ou “É pra Você que rezamos? Sois Vós quem chamamos de justo?”.
Imaginei o que seria de Maria nos próximos anos...
Perguntei-me o que era pior: a dor da lacuna deixada ou o fato passar a odiar Deus a partir de então?
Chorei compulsivamente quando entrei na casa de minha avó e vi um quadro de uma criança com um sorriso resplandecente, numa “formatura do ABC”, criança qual o destino justo certamente não fora atendido pelo Criador.
Agourei então, que só perdoaria Deus no dia em que conseguisse olhar pra aquela foto sem chorar.
Será que esse dia chegaria?
Foi só então que, meio ao desespero, fiz um ultimo pedido ao Deus em quem não confiava mais: “Já que não há como trazê-la de volta, para sanar a dor, manda ao menos uma explicação, ou um sinal, para aliviar a inconformidade!”.

Para minha total surpresa, fui atendido quase que imediatamente: uma chuva luminosa começou a cair do céu, batendo com força no telhado – como se pedisse insistentemente pra ser ouvida –, me fazendo volver a esperar em Deus, e me confortando, ainda que timidamente.

A chuva que caía no telhado, me fez lembrar uma tarde, da minha cada vez mais distante infância. Jogava bola com meus amigos na praça – a mesma que meu avô, em pose de Drummond, olhava encantado Isis correr – quando o sino da igreja próxima começou a badalar: era o funeral de um mendigo que estava começando. Logo em seguida, uma torrencial chuva começou a desabar. Lembro, que na inocência (sabedoria) de criança, um de meus amigos clamou: “a chuva significa que Deus está levando a alma desse homem direto pro céu...”.
Verdade ou não, o fato é que aquela tarde chuvosa inundou meu coração, cheio de tristeza, com um estranho sentimento de paz. A mistura dos dois sentimentos era ainda mais estranha.
A resposta que Deus me deu fora clara: aqueles cujo destino não depende de suas escolhas aqui na Terra, podem parecer injustiçados, mas terão Dele direta e divina assunção, terão Dele um lugar ao Seu lado. A certeza de que Isis estaria ao lado de Deus, lugar destinado aos anjos, teve sabor de mel.

As primeiras motivações que tive pra escrever essas linhas tortas, que Deus se encarregará de aprumar, datam do dia nove de maio de dois mil e dez: “dia das mães”, poucos dias antes dela morrer. Mas o texto só foi concluído no ultimo dia de maio – mês de Maria, mãe de Deus.
Esses fatos são intrigantes para uma criança que, como dito: nunca chegou a saber quem foi a primeira mãe, foi renegada à segunda, e teve três mães durante a vida (ou seriam quatro, hein Ada?).
São peculiaridades desse hino à Isis.
E ainda mais extraordinário: Isis foi o nome que os povos antigos deram à Deusa do Universo, a que – assim como nós costumamos chamar nosso Deus de Pai – eles chamavam de Mãe.
A Grande Mãe.
E isso em tempo nenhum deixou de ser verdade: Deus é pai, mas também é Mãe.
Pois é, como em uma tarde qualquer uma chuva me explicou, depois de 11 anos desamparada ou acalentada por colos de varias mães, Isis finalmente está no seu lugar devido: o colo de sua verdadeira Mãe.

Eric Vitoriano

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Livre Arbítrio


Dizem que Deus tudo criou: céu, inferno, universo e homem.

E que tudo sabe: ontem, hoje e amanhã.

Por conseguinte dizem que Ele é justo, e que os injustos padecerão.

Se for assim: como pode Ele ser justo, se criou o injusto pra padecer, mesmo sabendo o quão horrendo será seu destino?

Como pode ser justo se criou o infeliz para sofrer, o assassino para matar, o ladrão para roubar e o leproso para apodrecer – tendo Ele mesmo premeditado a sina que os espera neste mundo e no próximo?

Como pode ser bom se criou Seus filhos à sua imagem e semelhança para um fado de fogo e escuridão?


Não acho que seja por aí. Os que pensam dessa forma esquecem-se da Sua mais bela dádiva: – talvez até mais bela que o próprio amor – o “livre arbítrio”.

Penso que Deus, ao criar o homem, criou também todos os caminhos possíveis a serem percorridos, mas deu ao próprio homem a tarefa de escolher em quais dessas estradas irá caminhar, quais dessas portas irá abrir (Assim nascendo a idéia de bem e mal, certo e errado - mas isso é problema da filosofia, não meu ou de Deus).


Lastimavelmente o plano de Deus falhou, e não falo só porque os homens escolhem os caminhos miseráveis, mas, de fato, porque as vezes não existe escolha, todos os caminhos levam ao calvário, e não há como escapar.

Pessoas morrem de fome todos os dias, privadas daquilo que uma minoria esbanja como se não tivesse a menor importância. Crianças inocentes contraem doenças incuráveis e moléstias imundas, antes de terem discernimento para sequer escreverem os próprios nomes. Pessoas morrem e pessoas matam privadas de conhecer a causa que os levou a merecerem tal infortúnio.

De que serve-lhes as escolhas, se não há opções?

De que serve-lhes o Livre Arbítrio?

Mesmo que Deus seja justo, o mundo criado por Ele definitivamente não é.


Visto que minha limitada compreensão humana não consegue entender motivos e anseios de um criador, à quem inexplicavelmente insisto não adjetivar como cruel, só me resta intuir uma coisa:

Dizem que Deus é amor.

Dizem que amar é perdoar.

Portanto amar a Deus é perdoar os Seus erros…


Eric Vitoriano.

Resto do Post

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Semi-Crônica do Tempo




É espantoso como as coisas da vida parecem melhores quando vão embora. Não se sabe se por que quando vivemos o presente, estamos tão ocupados sonhando com o futuro e lembrando nostalgicamente do passado, que acabamos por esquecer-se de viver com intensidade o dia de hoje. Ou se na verdade por que o presente nunca nos permite realmente enxergar o seu quinhão afável.
Pensando bem, creio que não se trate inteiramente nem de um nem de outro, e sim de alguma engenhosa equação matemática baseada nos dois fatores, mas que sempre tem a mesma resultante: um espaço em branco na vivencia do presente, que só pode ser visto quando esse presente metamorfoseia-se em passado.
Como uma borboleta que um dia foi lagarta.
Como o pó que um dia foi borboleta.
E nisso o tempo passa e a vida nos derrota.
Como diria o poeta: “Que a terra nos seja leve”.


Eric Vitoriano

quarta-feira, 8 de julho de 2009

!Choldra



Antes sozinho ser você, que na multidão ser só mais um que não é…

Eric Vitoriano

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Amém Poeta


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Tão doce quanto a vida
Tão sábio quanto a bíblia
Tão teimoso quanto um asno
Tão sensível quanto uma borboleta
Tão incisivo quanto o rock
Tão contraditório quanto o tempo...

Tão doce quanto o tempo
Tão sábio quanto um asno
Tão teimoso quanto a vida
Tão sensível quanto o rock
Tão incisivo quanto uma borboleta
Tão contraditório quanto a bíblia...

Tão doce quanto o rock
Tão sábio quanto o tempo
Tão teimoso quanto uma borboleta
Tão sensível quanto um asno
Tão incisivo quanto a bíblia
Tão contraditório quanto a vida...

Eric Vitoriano

terça-feira, 30 de junho de 2009

Soneto à Dom Quixote de La Mancha



I
Em um coração: encantamento
Em uma ilusão: vitórias e amores
Crer derrubar gigantes opressores
Mesmo que fossem moinhos de vento
II
Explode assim um novo pensamento
De loucura que é dos grandes sonhadores
Que é loucura necessária aos vencedores
Que na ruína veem contentamento
III
E em tantas batalhas já vividas
Com ou sem um sentido (de loucura)
Vê-se a chave de vitória plena:
IV
Nunca baixar a cabeça na clausura
E saber que lutar só vale a pena:
Se for por amor as causas perdidas!

Eric Vitoriano